sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

CARNAVAL EM NATAL

Dia 1


Acordamos pra ir! Saímos às sete da matina, pra não pegar trânsito e chegar relativamente cedo. Nenhuma dessas justificativas aplaca a fúria da minha namorada por ter de acordar antes das 13:00 em um sábado. Logo ao entrar no carro, percebo que entre eu, o André e nossas namoradas, estamos levando comida como se fôssemos passar o carnaval na Somália ou em algum outro lugar onde fosse difícil conseguir comida, como o Piauí. Graças ao bom Deus e às drogas, Nicole cai no sono e só acorda horas depois, quando estamos no meio de uma animada discussão sobre música. Não sei se atribuo isso ao mau humor natural de quem acorda, mas ela logo fica histérica frente ao simples desafio de apontar uma música boa dos Beatles que eu proponho. O resto do carro, é claro, fica do lado dela. No final, provo por A mais B que esse lance de música é altamente overrated e todos concordam comigo. I RULE!!!


Chegamos em Natal. O GPS do André é ainda mais perdido do que eu! Por pura sorte, encontramos um restaurante de comidas regionais. Aparentemente, as comidas regionais de Natal vão desde o mugunzá até o sushi. André para de se servir apenas porque sentamos longe do bufê. Pergunto ao garçom se eles tem vaga para passarmos o carnaval inteiro lá. Recebo a primeira (de muitas) rabissacas da viagem. Fechando o almoço com chave de ouro, tiramos foto como Lampião e Maria Bonita. Vimos uma tartaruga no lago artificial do restaurante e pensamos "pô, deve ser legal ser tartaruga, passar o dia se arrastando por aí, dentro d'água...". Percebendo que estávamos querendo virar tartarugas, decidimos que era hora de procurar nossa pousada.


Depois de encontrar todos os outros pontos de Natal, o GPS do André nos leva à pousada. Não é um lugar feliz. Um doce cheiro de mofo nos dois quartos logo nos dá saudade de casa (onde não há cheiro de mofo). Não sinto a menor confiança na descarga. A televisão não tem controle. Pelo menos o ar e o chuveiro do meu quarto prestam. O mesmo não pode ser dito do quarto do André.
Depois de discutir com o dono da pousada sobre a temperatura do quarto, o tiozinho chegou à conclusão de que 35º não é frio nem no inferno (bom, talvez no inferno...). André é colocado em um quarto menos "charmoso", mas com uma ventilação impecável. Nota: o charmoso que o dono da pousada queria vender era uma pia fora do banheiro e um arzinho de calabouço do século 17 que o quarto tinha. Não se enganem, o novo quarto também não era essas balas todas. Ficava na frente da cozinha. O que não tinha nenhum problema, já que a pousada não tinha café da manhã. Ou até tinha, se você estivesse disposto a pagar R$ 15,00 e avisar até as nove da noite do dia anterior. Simples, não? Decidimos que a pousada será nossa parada de emergência, quando não encontrarmos mais lugar em nenhum pronto socorro, voltando lá apenas para tomar banho, trocar de roupa e desmaiar.


Nos aprontamos e começamos a explorar Natal. Logo descobrimos que a cidade tem uma gigantesca avenida, que apelidamos de "Santos Dumont", onde absolutamente tudo acontece. Sério! Na mesma avenida, achamos uma Sex Shop e uma exposição de tubarões! Não que os tubarões estivessem usando as coisas da Sex Shop, porque um tubarão já é ruim o suficiente sem um strap-on, mas vocês entenderam o que quis dizer. Seguindo o GPS do André, levamos apenas duas horas para chegar a um shopping que ficava há menos de cinco quilômetro da nossa pousada. André alega que eles tem uma tremenda choperia e resolvemos experimentar.


Chegando à choperia, finalmente a bebida começa a fluir no carnaval. É um chope tipo o chope do Boteco, se o chope do Boteco fosse bom. Perguntamos ao garçom se eles conhecem o chope do Boteco e ele cospe para o lado, em escárnio. O garçom nos ganha nesse momento. Depois de tomar quase todos os chopes, esbarramos em um tal de submarino, que custava quase R$ 15,00. Não que dinheiro fosse problema (afinal eu tinha deixado minha carteira no quarto e estava tudo por conta da Nicole), mas fiquei intrigado com o porquê daquela beberagem ser significantemente mais cara do que as demais. O nosso solícito garçom nos explicou que era uma doze de cachaça alemã (Straifensahuer, acho eu), em uma caneca de chope, designada especificamente para matar células cerebrais. Emendou sua explicação aconselhando que não a pedíssemos, porque nada de bom acontecia depois que alguém tomava um submarino. Naturalmente, pedi uma caneca.


Vou contar pra vocês, o que quer que seja que venha a pôr um fim ao mundo como o conhecemos, vai sair da mente de um bêbado. Por si só, a mecânica do tal submarino era algo a ser admirada. Vou tentar explicar de um jeito que o Marley entenda (ai, ai...): a caneca vinha cheia de chope, com um copo cheio de cachaça Wolksvagem emborcado no fundo. Toda vez que se tomava um gole, um pouco da Flufsfragen se misturava na cerveja. O treco todo é projetado para que você só sinta o gosto da mardita quando o chope estiver acabando. Eu só sei que o negócio dá certo. Em questão de minutos já estava fora de mim, gritando impropérios e pedindo tudo que vinha no cardápio, apesar dos preços astronômicos cobrados.


Justamente por conta dos preços astronômicos e pelo fato das meninas estarem ficando com fome, decidimos procurar um lugar mais economicamente acessível para encerrar a noite. O caminho até lá é meio nebuloso para mim, mas desconfio que houveram mais cervejas nesse meio. Chegamos a um bar com temática mexicana, ou algo assim, e começamos a beber de novo. Finalmente, era hora de clima de carnaval, com um DVD do Chiclete com Banana truando e o bar inteiro cantando junto. Ou talvez fosse só eu. De qualquer forma, logo fiquei amigo de todo mundo, em especial do garçom que estava servindo nossa mesa, que passou a me tratar carinhosamente de "Bebum".


Logo nesse primeiro dia, o clima aprontou das suas surpresas, uma que ficou como uma marca pelos outros dias da viagem: a chuva. Não era uma chuvinha tipo "aaaahhhh, que coisa agradável" era mais uma chuva tipo "MEU DEUS! VAMOS TODOS MORRER!!!!". Modos que, quando deu uma treguazinha, achamos melhor voltar para o carro. Afinal de contas, estávamos na beira da praia e uma tsunami já não era um medo assim tão distante. Eu, pelo menos, já tinha avisado o povo do bar de umas quatro.


Voltando para a pousada, para nossa grata surpresa, percebemos que tinha um bar, chamado "Curva do Vento", ao alcance de uma carreira. A cereja no bolo era o fato de que estava tocando "Madagascar Olodum". Tudo bem o o canto tinha a maior cara daquele bar de "Um Drink no Inferno", mas como resistir ao chamado do Ilê?! Infelizmente, Nicole não foi tão compreensiva assim. Usando a razão, apontando uma ou duas alucinações que eu posso ou não ter tido; e a bastante concreta ameaça de ter de arranjar onde dormir no "Curva do Vento" caso saísse da pousada, minha tirânica namorada encerrou nosso primeiro dia de carnaval.


A seguir: Dia 2 - NÃO TATUEM BRIBAS NA CARA!

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